Rap das Minas: Elas usam rimas contra discriminação
- Rony Costa

- 17 de nov. de 2022
- 5 min de leitura
Em um ano, o ritmo cresceu 200% no Top 10 do Spotify
Como um ritmo musical fruto da junção do hip-hop com o funk, o rap é um ritmo que era totalmente discriminado pela sociedade, mas nos últimos anos vêm ganhando um novo olhar em solo brasileiro.
Em entrevista com o 071 News, Cintia Savoli (41) poeta, rapper e pedagoga conta um pouco sobre sua atuação no mundo do rap e como foi migrar do reggae para o rap. Cintia que começou a atuar no mundo da música profissionalmente em 1998, recebeu em 2005 um convite que a fez migrar do reggae - onde até então ela atuava como vocalista e tecladista na banda Arawaks - para o rap. “Um MC bateu no meu portão e me perguntou se eu era cantora. Eu disse que sim. E ele me falou que precisava de uma backing vocal para o grupo dele. Foi aí que eu tive o primeiro contato com o rap”.
Cintia morava em Brasília (DF) e em 2010 mudou-se para Salvador, onde foi bem recebida pelos soteropolitanos e até chegou a gravar seu primeiro CD. Na mesma época, juntamente com a MC Mirapotira, Cintia encabeçou o projeto “Rima Mina”, projeto que gerou oportunidade para muitas mulheres que queriam se inserir no mundo do rap.
“Na época que eu e Mira estávamos morando em Salvador, que eu me lembre, não tinham muitas mulheres na cena, assim, tocando nos eventos. Então de fato faltava bastante representatividade feminina. E foi nesse tempo que a gente se uniu para fazer o coletivo Rima Mina com algumas outras mulheres e começamos a dar oficina de rima para mulheres em Salvador”.

Cintia acrescenta que muitas mulheres de diferentes bairros de Salvador compareciam na oficina, que acontecia na Ladeira da Preguiça e muitas delas tinha certo receito em se colocar na cena.
"Muitas não sabiam como chegar, como abrir essa porta e com esse coletivo eu e Mira abrimos muitas portas em Salvador, e em 6 meses de oficina muitas mulheres através deste projeto começaram a aparecer na cena, inclusive muitas dessas mulheres hoje ainda estão na cena e a gente tem muito orgulho do Rima Mina. Esse projeto cresceu e foi para além das oficinas de rima se tornando também um projeto musical e recebemos muitos convites para fazer muitos eventos e também oficinas em presídios".

Cintia e Mirapotira ministraram várias oficinas em presídios femininos e também masculinos da capital baiana e no interior. A penitenciária Lemos de Brito, Lafaiete Coutinho, Case Camaçari e o presídio feminino do Piauí foram alguns dos palcos das rappers.
“Este projeto pra mim tem uma grande importância, foi através dele que a gente viajou muitos estados do Brasil e eu pude através do rap alcançar pessoas, conversar com essas pessoas por meio da música e fazer com que elas se sentissem representadas e amadas de alguma forma”, completou Cintia.
A rapper afirma ainda que no cenário atual enxerga a presença feminina no mundo do rap como algo que ainda tem muito a se expandir, além de contar um pouco sobre o processo criativo de compor as suas músicas. “Todos os raps que eu canto são feitos por mim, sou compositora e poeta antes de mais nada. “Caixa de Pandora” e todos os sons na internet cantados por mim fui eu quem escrevi de fato. Eu nunca escrevi músicas para outras pessoas, mas já ajudei pessoas a escreverem letras de músicas. Meu processo de composição é diverso, já houve momentos em que eu acordei antes de ir para o trabalho e recebi uma música que foi escrita em cinco minutos, e outras músicas, como “Caixa de Pandora”, que eu demorei alguns meses para escrever porque era um estudo que eu estava fazendo sobre como o feminino é visto em várias culturas. Então depois que eu fiz esse estudo eu escrevi a letra e por isso ela foi um processo mais demorado”.
Vídeo: "Caixa de Pandora", de Cintia Savoli (Reprodução/YouTube)
NOVA GERAÇÃO DE RAPPERS
Com a ascensão do ritmo no Brasil, uma nova geração de rappers vem surgindo e o público que curte está cada vez maior. Jovens artistas na cena do rap nacional vem ganhando espaço e nomes como Xamã, Djonga, Orochi e Delacruz já estão dentre os rappers mais ouvidos nas plataformas de streaming de música.

Ramon Kaizen (25) jovem rapper e compositor que nasceu no bairro do Cabula, faz parte desta nova geração e também contou ao 071 News sobre a sua história no mundo rap e como se identificou com este ritmo que por tanto tempo sofreu com o preconceito velado. Leia a seguir os principais pontos da entrevista:
071 News: Como começou seu trabalho como rapper?
Ramon Kaisen: Na verdade eu tive contato com a música desde muito cedo. Meu pai é multi-instrumentista então eu sempre estive em contato com a arte e meus tios também são músicos. Depois eu fui me interessando cada vez mais, só que eu comecei mesmo a escrever poesia. Depois eu fui conhecendo o rap, a questão da cultura hip-hop e por volta de 2012-2013 eu gravei minha primeira música. Aí foi que entrei num estúdio, gravei profissionalmente e conheci alguns produtores daqui, no caso o Ramires Ax, que me abraçou. Já gravei também videoclipes com alguns coletivos de hip-hop daqui de Salvador: Coletivo NaCalada, IS Music. E naquela época o rap não era tão popular como está sendo hoje, graças a Deus, mas a gente já fazia circular.
071 News: Por que o rap foi um ritmo musical que te atraiu? Como você se identificou?
RK: Eu cresci no bairro do Cabula, Estrada das Barreiras, e como é um bairro periférico né, a gente sabe que o rap sempre andou lado a lado com a periferia. O rap é um ritmo de música preta, um tipo de música que surgiu das periferias, então eu sempre ouvia Racionais MC’s, eu tinha muita curiosidade de ouvir a Mag também. Quando a gente só fazia uso da internet nas LAN Houses eu sempre ia pra lá com a galera ouvir 50 Cent, eram aqueles DVDs antigos mesmo que tinham vários clipes de rap. Então eu ouvi aquilo ali, e quando eu ouvi eu conheci o rap assim de fato o rap nacional que fui tendo contato. E como eu já tinha o costume de escrever alguns versos e poesias sem nem saber o que era a cultura hip-hop e nem o rap, quando eu ouvi foi aí que eu me identifiquei e eu vi que eu poderia fazer aquilo também então eu já comecei a escrever mais algumas letras de músicas, mais ou menos como uma brincadeira né, falando sobre o que eu vivia e sobre o que eu brincava ali com os colegas e com os amigos. Eu sempre estava escrevendo, mas eu não sabia como fazer, eu não sabia como era o processo de gravar uma música.









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