Cinema e Crítica com Leonardo Campos: o retorno de Anaconda e outras serpentes no Cinema
- Leonardo Campos

- há 12 minutos
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Nova versão de Anaconda mistura terror e comédia ao revisitar o clássico com elenco estelar e humor nostálgico

Ela está de volta. A mais temida serpente do cinema ganhou nova versão em 2025. Dirigido por Tom Gormican, Anaconda subverte a premissa de terror que se levou a sério no hoje clássico de 1997, para apresentar uma comédia de ação metalinguística. A narrativa acompanha quatro amigos de infância enfrentando crises de meia-idade, interpretados por Jack Black, Paul Rudd, Steve Zahn e Thandiwe Newton, figuras ficcionais que viajam para a Floresta Amazônica com o objetivo de gravar uma refilmagem amadora de baixo orçamento de seu filme favorito da juventude: Anaconda, com Jennifer Lopez, Ice Cube, Owen Wilson, Eric Stoltz, John Voight, Danny Trejo, dentre outros, personagens desse horror ecológico massacrado pela crítica da época, mas um sucesso de bilheteria, bem como no mercado de vídeo. Eu, caro leitor, particularmente me diverti quando adolescente assistindo e ainda hoje revejo com pipoca e muito entusiasmo, afinal, é necessário levar a nossa vida tão à sério assim?
Na produção que promete divertir e atrair novas plateias, o que começa como uma viagem nostálgica rapidamente se transforma em um pesadelo real. Enquanto tentam filmar com uma sucuri mansa chamada Heitor, o grupo se depara com uma verdadeira anaconda colossal e agressiva que passa a caçá-los. Além da ameaça da cobra gigante, os protagonistas precisam sobreviver a desastres naturais e ao confronto com criminosos violentos na selva, transformando a produção improvisada em uma luta desesperada pela vida. Numa perspectiva similar ao divertido Trovão Tropical, a nova versão de Anaconda, independentemente de seus atributos e qualidades dramáticas, é focada no humor ácido e na sátira da indústria cinematográfica. Gormican e o corroteirista Kevin Etten buscaram equilibrar momentos de tensão com piadas sobre as aspirações artísticas duvidosas de seus personagens, como o roteiro mal escrito de Doug (Black) e a atuação exagerada de Griff (Rudd). Em entrevistas durante o processo de divulgação, o diretor enfatizou que, embora existam sustos, o objetivo central é rir do despreparo dos personagens diante do perigo real. Menos horror ecológico, mais paródia com aventura.
Um dos grandes destaques que deve fazer as bilheterias brasileiras diferenciarem nos cálculos finais dos rendimentos globais do filme é a presença de Selton Mello, ator que interpreta Santiago, o treinador da cobra usada no filme amador. A incursão no universo de Anaconda em 2025 integra a onda de nostalgia que revisita clássicos para atrair veteranos e capitalizar sobre novas audiências através de marcas consagradas. Essa tendência reflete um possível esgotamento criativo na indústria, que prioriza propriedades intelectuais conhecidas em vez de conceitos originais. Em meio à abundância de conteúdos no streaming, o retorno da franquia evidencia como a reciclagem do passado se tornou a estratégia dominante para garantir atenção em um mercado saturado. Para refletirmos.

Antes da prometida lista de outros filmes com esses antagonistas rastejantes assustadores, vamos relembrar criticamente o filme de 1997?
Há uma cena bastante “interessante no desinteressante” A Caverna, filme de do segmento horror ecológico, lançado em 2005. Em algum ponto da trama, os envolvidos em uma pesquisa no interior da “caverna” do título, repleta de criaturas aterrorizantes, conversam e alguém dispara o seguinte questionamento: “Somos da cadeia?” Logo mais, um dos chefes da missão responde que sim, “sempre fomos”, no entanto, “esquecemos isso porque estamos nas cidades”. É mais ou menos com esse questionamento que os personagens de Anaconda vão se aventurar pelas caudalosas e escuras águas da Amazônia para documentar uma tribo indígena, sem fazer ideia que o projeto inicialmente elaborado seria desvirtuado para uma sobrecarga de adrenalina talvez nunca antes enfrentada. Dirigida pelo peruano Luis Llosa, a produção é o que podemos chamar de prazer culposo, pois mesmo sabendo que é comprometedora dramaticamente, nos atrai pelas frenéticas cenas de ação, principalmente em seu turbinado desfecho.
Longe dos chavões da ciência como culpada pela criação de monstros abomináveis na natureza, Anaconda segue uma linha divergente: é o homem que invade o espaço dos animais, tornando-se um dos pratos da dieta dessa enorme serpente que supostamente vive na Amazônia. Numa estratégia do efeito Tubarão, de Spielberg, a narrativa escrita por Hans Bauer, Jack Epps Jr. e Jim Cash demora a nos apresentar a serpente em sua totalidade, bem como realiza uma abertura seguindo o ponto de vista do predador em seu primeiro ataque em cena. No filme uma equipe de documentaristas vem para a região amazônica com interesse em registrar, pela primeira vez, uma tribo indígena. Integram a equipe, os personagens de Jennifer Lopez, Ice Cube e Eric Stoltz. Na viagem conhecem um homem que diz saber o lugar exato onde eles encontrão o que precisam. Para a troca, basta dar-lhe abrigo na expedição. É a partir daí que os personagens perceberão que o maior problema não é a cobra gigantesca, mas o malandro, “interpretado” por John Voight homem que pretende colocar as suas vidas em perigo para conseguir caçar a tal cobra lendária.
Ao longo de seus 90 minutos, a aventura filmada entre o Brasil e o Peru é guiada pela envolvente trilha de Randy Edelman e pela eficiente direção de fotografia de Bill Butler. A narrativa, lá em 1997, traz uma versão da famosa cobra lendária que dá um show em produções menores, ao estilo canal Syfy, um horror para quem compreende o mínimo de efeitos visuais e especiais no cinema. Com uso de animatrônicos e algumas pitadas de CGI, a cobra do filme não é o grande problema da produção, como apontaram alguns críticos na época do lançamento. Tudo bem que ela é exagerada. Como sabemos, a versão real do animal é conhecida por sucuri e possui veneno que não mata, mas entorpece as suas vítimas, impedindo-as de escapar do ataque certeiro. Somente esse detalhe já é responsável por nos deixar aterrorizados.
O problema todo é o desempenho de uma parte do elenco, com destaque para o vilão abominável do veterano John Voight, além do português sucateado de alguns diálogos, o sotaque horroroso de outros, bem como as falhas de edição, afinal, é impossível não ficar abismado com a cena em que o personagem pula de uma cachoeira para fugir da serpente e é tragado pelo animal furiosamente: neste trecho, a água da cachoeira segue o fluxo contrário, de baixo para cima.
Se há uma cachoeira mágica na América do Sul, ainda não fomos informados formalmente, sendo assim, por favor, geógrafos, reescrevam as suas apostilas. Com Anaconda, o império dos filmes de animais “assassinos” estava de volta. Salvas as devidas proporções, o filme tornou-se para o subgênero horror ecológico o que Pânico, de Wes Craven foi para o slasher: uma carga de oxigênio que culminou em diversas produções igualmente absurdas, mas extremamente divertidas, tais como Do Fundo do Mar, Pânico no Lago, dentre outros. Rentável, apesar das críticas especializadas que detonaram a aventura, o filme ganhou outras continuações. Apesar de seus roteiros mais sofríveis, posso destacar como interessante apenas Anaconda 2: Caçada a Orquídea Sangrenta, bastante irregular, mas com a possibilidade de ser assistido, nos rendendo bons momentos de diversão enquanto consumimos nossas pipocas. Produzidos para a televisão, continuações que se seguiram são rabiscos dramatúrgicos que não empolgam, tampouco divertem, em linhas gerais, ainda mais exagerados e tediosos, só não digo descartáveis porque tenho respeito ao trabalho alheio, mesmo que este seja de qualidade duvidosa.
E, para encerrarmos, vamos para o nosso painel de serpentes perigosas do cinema?

As Cobras Atacam (1999): é um filme de horror ecológico, onde moradores de uma cidadezinha na Califórnia são mortos por cobras venenosas, levando o chefe de bombeiros e um biólogo a se unirem para combater os répteis mortais, numa trama cheia de clichês do subgênero "animais assassinos" com foco em suspense e entretenimento ligeiro, seguindo a linha de clássicos como Tubarão.
Ataque das Cobras (1976): é um filme de terror ecológico onde um herpetologista investiga mortes misteriosas no deserto, descobrindo que cascavéis ficaram extremamente agressivas devido a um gás nervoso experimental militar descartado ilegalmente em uma caverna, desencadeando ataques em massa e revelando um encobrimento de um coronel relutante. O filme segue a fórmula de "animais assassinos", com a ameaça das cobras sendo amplificada pela ação humana irresponsável.
Rastro de Pavor (1996): é um telefilme de terror sobre uma família isolada no Vale do Éden que é inexplicavelmente atacada por uma horda de cascavéis, forçando-os a lutar pela sobrevivência contra as serpentes venenosas que parecem surgir de todos os lugares, com a trama explorando o terror ecológico e a claustrofobia da situação, sem um enredo complexo, focando no suspense e nos ataques das cobras.
Veneno Mortal (2001): é um filme de terror/ficção científica sobre cobras mutantes e venenosas, resultado de experimentos genéticos que escapam de um laboratório após um terremoto, liberando um vírus mortal e atacando uma cidade, forçando um médico local a lutar contra as serpentes e o governo para salvar a população.
Stanley: O Réptil Maligno (1972): o filme conta a história de um jovem índio Seminole que usa sua cobra de estimação, uma cascavel, para se vingar das pessoas que o prejudicaram. A trama segue essa jornada de vingança, misturando elementos de terror e suspense.
O Ataque das Víboras (2008): A história se passa em uma ilha paradisíaca onde um laboratório de pesquisas realiza experimentos com víboras geneticamente modificadas. As cobras, que se tornaram extremamente venenosas e agressivas com o objetivo de produzir mais veneno, escapam do cativeiro.
Python: A Cobra Assassina (2000): Uma serpente geneticamente modificada escapa após um acidente de avião e aterroriza uma pequena cidade.
Boa: A Cobra Assassina (2002): Também conhecido como New Alcatraz, apresenta uma serpente pré-histórica libertada em uma prisão de segurança máxima no gelo.
Serpentes a Bordo (2006): Embora mais focado em ação/suspense, tornou-se icônico por mostrar centenas de cobras venenosas soltas em um avião em pleno voo.
Anaconda (Versão Chinesa - 2025): Um remake chinês que segue artistas de circo presos em uma floresta tropical, servindo de isca para serpentes colossais.
Titan (2025): Ambientado no Rio Curuçá, no Brasil, mostra médicos em missão humanitária enfrentando a lendária Boiúna, um predador ancestral.
Pânico no Lago vs. Anaconda (2015): Um crossover trash de baixo orçamento que coloca o crocodilo gigante contra a serpente.
É serpente que não acaba mais, não é mesmo, caro leitor? Até os próximos lançamentos. 2026, aqui no 071 News, análise de filmes toda semana para ampliar o seu repertório cultural, combinado?









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