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Repertório Cultural Importa: Literatura e Cinema nas Aulas de Jornalismo

  • Foto do escritor: Redação
    Redação
  • 22 de jul.
  • 9 min de leitura

Professor Leonardo Campos explica como literatura e cinema potencializam a escrita e o senso crítico de futuros jornalistas em suas aulas laboratoriais

Professor Leonardo Campos
Literatura e cinema ajudam a potencializar escrita e senso crítico no curso de Jornalismo, explica Professor Leonardo _ Imagem: Arquivo pessoal

Professor Leonardo, nós já fizemos dinâmicas parecidas em lançamentos de outros livros de sua autoria, então, para essa entrevista, vamos manter o tom didático de outros momentos, combinado? Começa explicando para os leitores: qual a proposta pedagógica para o uso de literatura e cinema em suas aulas no curso de Jornalismo?


Importante introduzir desta maneira, pois sempre utilizo o conteúdo que produzimos por aqui para ser parte dos elementos preambulares destes livros. Sendo bem prático, o uso de literatura e cinema nas aulas de jornalismo pode ser extremamente benéfico para aprimorar tanto a escrita quanto o senso crítico dos estudantes. A literatura oferece uma rica variedade de estilos e vozes. O contato com obras literárias ajuda os estudantes a expandirem seu vocabulário e a experimentarem diferentes formas de expressão, o que enriquece sua escrita jornalística. O cinema, assim como a literatura, é uma poderosa ferramenta de narrativa. Estudar filmes ajuda os alunos a entenderem como construir uma história, criar tensão e desenvolver personagens, habilidades essenciais para reportagens e crônicas. Tanto na literatura quanto no cinema, os estudantes são expostos a diferentes culturas, realidades e perspectivas. Essa diversidade promove a empatia e a compreensão dos outros, habilidades cruciais para um jornalista que deve representar diversas vozes. O estudo de narrativas na literatura e no cinema ajuda os alunos a entenderem distintas estruturas de texto. Saber onde colocar uma informação relevante ou como iniciar um artigo pode ser aprimorado com esse conhecimento. A ideia central, nestas aulas laboratoriais em jornalismo, é colocar o estudante em contato com o texto, promover debates, pois mesmo com tanta facilidade em nossa atual era tecnológica, que nos têm trazido numerosas facilidades , bem como encantamentos, o nosso desenvolvimento cognitivo é um traço essencial.


Ao longo do livro, você expressa uma afeição grande pela escrita cursiva. Isso pode em algum momento ser interpretado como uma crítica ou oposição ao digital?


A prática da escrita cursiva continua a ser um aspecto importante do desenvolvimento cognitivo humano, mesmo em um mundo dominado pela tecnologia. Temos que ressaltar: negar os avanços tecnológicos? Jamais, não é esta a ideia. Mas, pensar em trabalhar de maneira associada, pois muitos estudos no âmbito da neurociência têm apresentado resultados catastróficos no que diz respeito aos aspectos do desenvolvimento da cognição de gerações mais recentes.  A escrita cursiva exige coordenação motora fina, pois envolve movimentos fluidos e contínuos. Esse desenvolvimento motor é crucial para crianças e pode beneficiar sua habilidade em outras atividades que exigem destreza manual. Estudos mostram que escrever à mão, especialmente em cursiva, pode facilitar a retenção de informações. O ato de escrever a conteúdo ajuda a fixá-lo na memória, pois o cérebro processa as informações de maneira mais profunda. A escrita cursiva permite um estilo mais pessoal e artístico de se expressar. Esse aspecto criativo é essencial, pois incentiva os indivíduos a desenvolverem sua voz e estilo únicos. Escrever no formato cursivo requer foco e concentração, ajudando a desenvolver habilidades de atenção. Esse estado de imersão pode ser benéfico em um ambiente repleto de distrações digitais, onde a capacidade de se concentrar é frequentemente desafiada. E, tem muitos mais, pois a prática da escrita cursiva pode ajudar no aprendizado da leitura, pois as letras cursivas têm uma fluência que se relaciona com a forma como as palavras são formadas. Essa conexão pode facilitar a compreensão e a familiarização com a linguagem escrita.


Práticas Laboratoriais em Jornalismo com o professor Leonardo Campos _ Imagens: Arquivo pessoal
Práticas Laboratoriais em Jornalismo com o professor Leonardo Campos _ Imagens: Arquivo pessoal

Impressão ou parece que há ainda muito mais a ser dito sobre este tópico?


Se me deixar, continuarei trazendo outras tantas vantagens, algo que se tornou basilar e um tópico preocupante em minha jornada enquanto docente do Ensino Médio e do Superior. Reforço constantemente que a prática regular da escrita cursiva pode melhorar a habilidade ortográfica e a compreensão da estrutura da linguagem, pois os escritores precisam se concentrar mais em como as palavras são construídas e conectadas. A caligrafia cursiva pode se tornar uma representação da identidade de um indivíduo. O estilo pessoal na escrita reflete traços de personalidade e pode ajudar no desenvolvimento da autoexpressão. A escrita manual, incluindo a cursiva, pode ter um efeito terapêutico. O ato de escrever pode ser uma forma de relaxamento e meditação, funcionando como uma saída emocional em momentos de estresse ou ansiedade. Nas crianças, aprender a escrever à mão pode ser uma experiência social. Elas geralmente praticam em grupos ou têm oportunidades de compartilhar suas ideias de forma física, o que promove as habilidades de comunicação e interação social. Mesmo na era digital, muitas situações ainda exigem que se escreva à mão, como durante exames, assinaturas de documentos e anotações em conferências. A habilidade de escrever em cursiva, portanto, permanece relevante e necessária.


Em outras iniciativas pedagógicas, a sua perspectiva de leitura nas aulas era mais abrangente, mas desta vez, o enfoque é nos textos literários. O que tem de diferente neste cenário de ensino e aprendizagem?


A literatura e o cinema estimulam a criatividade, permitindo que os estudantes explorem abordagens inovadoras para contar histórias. Isso pode resultar em peças jornalísticas mais envolventes e originais. Muitas obras literárias e cinematográficas exploram questões éticas e dilemas morais. Discutir essas questões nas aulas de jornalismo ajuda a formar jornalistas mais conscientes e responsáveis em suas produções. Ademais, narrativas literárias e cinematográficas frequentemente refletem o contexto histórico e social de suas épocas. Estudar esses elementos ajuda os alunos a entenderem as nuances do jornalismo em diferentes momentos da história. Ao discutir debates sobre livros e filmes, os alunos têm a oportunidade de praticar a crítica construtiva. Essa habilidade é fundamental na redação, pois permite que aceitem retorno sobre seus textos e continuem a melhorar. Além disso, algo que é muito construtivo: a integração do cinema e da literatura nas aulas de jornalismo pode fomentar um ambiente colaborativo, onde os alunos compartilham reflexões e interpretações e, assim, aprendem uns com os outros, promovendo um aprendizado mais rico e multidimensional. Nas aulas, além de debates, produzimos conteúdos jornalísticos hipotéticos sobre os temas destes conteúdos literários e cinematográficos e, assim, a aprendizagem se potencializa.


Além da leitura de conteúdos literários, todos especificamente brasileiros, você também insere a escrita criativa em suas práticas. É uma estratégia que funciona?


É muito costumeiro, em especial, na fase escolar, focarmos na leitura e interpretação. E isso eu faço bastante nas aulas laboratoriais de jornalismo, mas a prática da escrita criativa neste âmbito pode ser um poderoso impulso na produção de crônicas pelos estudantes. A escrita criativa permite que os estudantes explorem sua própria voz e estilo narrativo. Isso é essencial para a crônica, que frequentemente reflete a perspectiva individual do autor, tornando-as mais envolventes e autênticas. A prática da escrita criativa incentiva os alunos a aprimorarem suas habilidades de observação e a serem mais sensíveis ao mundo ao seu redor. A crônica, por sua natureza, frequentemente capta detalhes sutis da vida cotidiana, e a observação aguçada é fundamental para isso. Esta modalidade de composição textual também permite que os estudantes experimentem diferentes formatos e estruturas narrativas. Na crônica, a flexibilidade estrutural é uma característica, e essa liberdade estimula a inovação e a originalidade nas produções dos alunos. Ademais, a prática de contar histórias de forma criativa ajuda os estudantes a desenvolverem empatia e conexão emocional, habilidades fundamentais ao escrever crônicas. Essas habilidades tornam suas narrativas mais cativantes, permitindo que os leitores se identifiquem com as experiências descritas. E, também muito importante: se envolver em atividades de escrita criativa também implica ler e analisar diversos tipos de textos literários e crônicas. Essa prática ajuda os alunos a compreenderem o que faz uma crônica ser eficaz, desde o uso da linguagem até a construção do tema e do tom.


Práticas Laboratoriais em Jornalismo com o professor Leonardo Campos _ Imagens: Arquivo pessoal
Práticas Laboratoriais em Jornalismo com o professor Leonardo Campos _ Imagens: Arquivo pessoal

Quem conhece o seu trabalho, sabe que o cinema está constantemente presente em suas propostas de mediação da aprendizagem. Reforça para os nossos leitores: como conteúdos ficcionais ou documentais ajudam na pavimentação de uma caminhada crítica para os estudantes de Jornalismo?


O uso de filmes e documentários nas aulas de jornalismo pode desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento do senso crítico dos estudantes. São narrativas que geralmente apresentam narrativas elaboradas, abordando questões complexas a partir de diversas perspectivas. Ao analisar essas narrativas, os estudantes aprendem a identificar vieses, a entender diferentes pontos de vista e a considerar como a escolha de uma determinada perspectiva pode influenciar a interpretação da história. A exposição a filmes e documentários que exploram temas relevantes ensina os alunos a se tornarem questionadores críticos. Eles podem aprender a formular perguntas sobre as motivações dos personagens, as credenciais dos narradores e como a informação é apresentada. Essa prática de questionamento é essencial para investigar a veracidade de informações no jornalismo. Muitos documentários e filmes abordam questões sociais, políticas e históricas. Isso oferece aos estudantes uma compreensão mais profunda do contexto em que as notícias são produzidas e consumidas. Essa contextualização ajuda os futuros jornalistas a reconhecerem a importância de reportagens informadas, que vão além da superfície dos eventos. E, também interessante, filmes que lidam com dilemas éticos no jornalismo — como a manipulação da verdade, a representação de eventos e as implicações da cobertura de determinadas histórias — proporcionam uma oportunidade de discussão sobre ética profissional. Estas discussões ajudam os estudantes a desenvolverem um sólido conjunto de princípios éticos para sua futura prática jornalística. Assistir a filmes e documentários pode inspirar os estudantes a pensar de forma criativa sobre a forma como as histórias são contadas. Essa inspiração pode resultar em abordagens inovadoras em suas próprias reportagens, bem como em uma maior apreciação pela narrativa visual e pelo uso de multimídia no jornalismo contemporâneo. Não é uma tarefa fácil, não funciona com todos, mas tentar é importante.


Expõe para os nossos leitores: numa era de facilidades com o Canva, a IA e outros recursos que estabeleceram grandes debates em todas as áreas do conhecimento humano, como lutar com o nosso cenário?


A formação de jornalistas contemporâneos enfrenta uma série de desafios que, se não forem abordados de forma eficaz, podem comprometer a qualidade do ensino e a capacidade criativa dos estudantes. As inovações tecnológicas, como a Inteligência Artificial (IA) e plataformas de design gráfico, como o CANVA, apresentam tanto oportunidades quanto obstáculos para a educação em jornalismo. Além disso, o crescente desinteresse pela leitura entre os jovens contribui para a complexidade da situação, tornando a tarefa dos educadores ainda mais desafiadora. Um dos principais desafios enfrentados pelos professores é a necessidade de adaptar seus métodos de ensino às novas ferramentas e tecnologias. A IA, por exemplo, tem se tornado uma constante no ambiente de trabalho dos jornalistas, com algoritmos que geram conteúdo, analisam dados e até mesmo realizam tarefas de edição. Para que os alunos se tornem profissionais competentes, é essencial que os professores integrem o uso dessa tecnologia nas aulas, ensinando os estudantes a utilizá-la como suporte em vez de como uma substituta da criatividade humana. No entanto, essa integração requer formação contínua para os educadores, que muitas vezes se sentem sobrecarregados pela rápida evolução das ferramentas digitais. A utilização de plataformas como o CANVA, que facilitam a criação de conteúdo visual de forma intuitiva e acessível, também impacta a formação dos estudantes de jornalismo. Embora essas ferramentas possam proporcionar uma experiência prática valiosa, elas podem fomentar uma dependência excessiva de recursos prontos, levando a uma desvalorização do trabalho criativo e da originalidade. Os professores precisam, portanto, promover um equilíbrio entre a utilização dessas plataformas e o desenvolvimento das habilidades de criação autêntica. Isso implica em incentivar os alunos a explorar suas próprias ideias, a experimentar e a errar, reforçando que a criatividade vai além do uso de ferramentas digitais.


E, para encerramos, o panorama tecnológico coaduna no constante desinteresse pela leitura? Como lidar?


Exatamente, um aspecto crucial na atualidade é o desinteresse pela leitura, que se tornou um fenômeno preocupante em meio à geração atual. A leitura crítica é fundamental para a formação de um jornalista, pois enriquece o vocabulário, aprimora a capacidade de argumentação e estimula a empatia por meio da compreensão de diferentes perspectivas. Para combater esse desinteresse, os professores devem buscar maneiras inovadoras de instigar a curiosidade dos alunos. Isso pode incluir a utilização de textos variados, a promoção de discussões em grupo e a incorporação de novas mídias que conectem a teoria com a prática. Leitura de reportagens interativas, podcasts e documentários podem ser ferramentas educativas que, quando utilizadas de forma criativa, despertam o interesse dos estudantes. O papel do professor de jornalismo nessa era dominada pela tecnologia é o de guiar e inspirar seus alunos a se tornarem pensadores críticos e criativos. Isso demanda uma nova abordagem pedagógica que valorize tanto a tecnologia quanto a fundamentação cultural e literária. Não é uma tarefa fácil e em alguns momentos, desanima. A formação de jornalistas criativos e éticos não se limita ao domínio das ferramentas do futuro, mas também ao desenvolvimento de uma consciência crítica e uma capacidade de contar histórias de forma genuína. Os desafios são muitos, mas com inovação e dedicação, é possível formar profissionais preparados para enfrentar as complexidades do jornalismo contemporâneo.

 

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